As
eleições, que no Brasil costumam ser um processo saudável de renovação das
representações políticas, em Alagoas toma um caminho um pouco adverso: por
aqui, a regra é: quais famílias vencerão em quais municípios, e como ficará o
mapa do coronelismo político após as eleições?
Para
responder a essa pergunta, basta olhar o resultado das urnas; famílias que há
décadas revezam descendentes no poder, mais uma vez conseguiram manter os seus
nos executivos municipais. Se há a refrescante renovação dos nomes, nos sobrenomes
não muda nada: são as mesmas velhas oligarquias regionais alagoanas em seus
mesmos postos.
Dentro
desse contexto, pelo menos uma grande mudança ocorreu, fechadas as urnas em
sete de outubro: algumas famílias ampliaram seu poder sobre os municípios aos
quais governam, enquanto outras tomaram o caminho do definhamento, por conta
principalmente da ausência de novos representantes para substituir as velhas raposas.
Sobre
esse tema, ninguém simboliza melhor a mudança do que Nivaldo Jatobá, o “faraó”
ex-todo poderoso prefeito de São Miguel dos Campos. Em que pese a sua
inelegibilidade decidida durante a eleição, o que provocou uma certa revoada de
seus votos, Jatobá pagou o preço de não se permitir formar uma nova liderança,
o que abriu caminho para o sempre candidato George Clemente imprimir a primeira
derrota eleitoral de sua vida. E muito provavelmente a última do senil
empresário, já rompendo a barreira dos 80 anos.
Vale
lembrar também a derrota histórica da família Damasceno Freitas no sertão;
Melina Freitas, atual prefeita, perdeu a reeleição em Piranhas, encerrando
assim um dos mais longos processos de sucessão hereditária do estado. No sentido
contrário, Celso Luís, ex-presidente da Assembleia Legislativa, denunciado pela
justiça como um dos líderes do desvio de 300 milhões da casa, de “taturana”
passa a ser agora autoridade: é o novo prefeito de Canapi, também no sertão.
No
entanto, para além dos sobrenomes que perduram nos municípios, Alagoas viu
surgir ainda uma nova correlação de forças políticas, tendo como lideranças o
governador Teotônio Vilela e os senadores Renan Calheiros, Collor e Benedito de
Lira. Sob as asas do quarteto, o estado foi loteado, com vistas em 2014, quando
Vilela e Collor terão que enfrentar novamente as urnas.
Em
números absolutos, ninguém conseguiu eleger mais prefeitos do que o PMDB de
Renan. Mais uma vez ressurgido das cinzas e forte no interior, Renan se
credencia para assumir o lugar de Vilela em 2014 se quiser, ou permanecer em
Brasília, prestando seu pesado apoio a quem desejar pôr no governo. Vilela, por
sua vez, mesmo com a máquina estatal, fez somente 17 prefeitos, além de
colecionar derrotas simbólicas: Arapiraca, onde jogou todo o seu prestígio
político e Penedo, do seu secretário de saúde Alexandre Toledo foram as mais
importantes. Em que pese a grande vitória de Rui Palmeira em Maceió, o
governador não apita mais sozinho os destinos políticos de seu grupo, e terá
que conversar com os aliados para se lançar senador novamente.
Um
deles, mais fortalecido a cada eleição, é o senador Benedito de Lira. De um
sem-mandato há alguns anos, Biu a cada pleito se torna o destaque da política
alagoana. Derrotou o então fenômeno Heloísa Helena em 2010, e fez sozinho 15
prefeitos em 2012, além do vice-prefeito da capital, Marcelo Palmeira. Fora o
prestígio em Brasília, onde ainda manda no ministério das Cidades, Biu pode ser
o desequilíbrio da balança eleitoral em 2014, embora uma candidatura sua ao
governo seja pouco provável – nesse momento, ressalte-se.
E
Collor? O ex fenômeno eleitoral alagoano, ex presidente da república e ainda
coronel por essas bandas, vê minguar ainda mais seu arco de poder. Seu partido,
o PTB, elegeu somente 8 prefeitos, contabilizando também derrotas simbólicas –
como em Traipu, onde anunciou sua candidatura ao governo em 2010, derrotado com
seu homem de confiança Marcos Santos (o “barão do São Francisco”). De importante
nessa eleição, somente a vitória de Célia Rocha em Arapiraca – embora a relação
entre ambos seja nada mais que republicana: não significa apoio daqui a dois
anos, principalmente se o agora prefeito Luciano Barbosa entrar na disputa.
Há
ainda as pequenas lideranças regionais, dentre elas um que já foi grande: João
Lyra, quase governador do estado em 2006, lutando para reverter a falência de
seu grupo empresarial, enfrentando a revolta de seus funcionários, ainda teve
em seu partido 8 prefeitos vitoriosos – dentre eles, Beto Baia em União dos
Palmares, impondo uma derrota ao ex-governador Mano. O vice-governador Nonô
amargou o péssimo desempenho do apresentador de TV Jeferson Morais em Maceió, e
terá que se contentar com apenas 2 prefeitos filiados ao seu DEM – sendo que um
deles, Fernando Pereira (Junqueiro) é “intruso”, pois é sobrinho de Biu de
Lira. Pesa a favor do vice um único fator: deixará de ser vice e passa a ser
titular em 2014, com a possível renúncia de Vilela.
Dessa
nova configuração, sairão os nomes e os nossos representantes nas próximas
eleições. Um estado onde a democracia, apesar do voto direto do cidadão, ainda
vive acorrentada aos mesmos métodos políticos de cem anos atrás – e também às
mesmas famílias.
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