Alguns
importantes aspectos puderam ser observados após o fechamento das urnas no
último 7 de outubro. Uma semana depois, com a euforia dos vitoriosos e a
decepção dos derrotados já superada e partidos e grupos políticos a parte, já é
possível, mesmo com algumas cidades ainda em processo de 2º turno, traçar um
panorama do escrutínio eleitoral de 2012.
O primeiro
grande ponto que não se pode esquecer é a judicialização das eleições, ou seja,
as decisões sobre a escolha dos nossos representantes estão, cada vez mais, nas
mãos dos juízes e dos tribunais. Há regras absurdas, que beiram o fantasioso:
um candidato sabidamente ficha suja tem o direito de se candidatar, até que um
juiz ou um colegiado deles decida o contrário. O resultado disso é uma grande
insegurança jurídica sobre quem é ou não candidato, além de uma enorme confusão
na cabeça do eleitor. Há casos em que um tribunal poderá inclusive modificar o
resultado das urnas, já que julgará o réu ficha suja somente agora, depois das
eleições. Um burocratismo sem sentido e desnecessário.
Outro
ponto importante foi o julgamento do chamado “mensalão”. Mesmo acreditando
piamente numa suposta “isenção” dos senhores ministros do STF, foi ao menos
desproporcional – para não dizer desonesto – iniciar um julgamento com
desdobramentos políticos importantes, onde estavam envolvidos atores
participantes do processo eleitoral, no mesmo período em que candidatos do PT e
partidos aliados pediam votos ao eleitor. Como numa novela com enredo
meticulosamente articulado, os supostos líderes do “mensalão” são julgados (e
condenados) na semana do 1º turno. Tudo, claro, com direito a ampla divulgação
da grande mídia brasileira, no que elas mesmas convencionaram chamar de “maior
julgamento da história”. Esqueceram-se, comodamente, do impeachment de Collor,
dentre outros.
Tribunais
e “mensalão” a parte, o resultado final das urnas foi amplamente favorável aos
partidos da base aliada de Dilma Rousseff. Dentre os grandes, somente o PT
conseguiu crescer em relação às eleições municipais de 2008 – pulou de 558
naquele ano para 627 em 2012, mesmo com a avalanche de editoriais e manchetes
vinculando seus candidatos ao “mensalão”. PSDB e DEM, os expoentes do que resta
da direita brasileira, encolheram: os tucanos definharam de 788 para 692
prefeituras, enquanto os Demos caíram de 501 para 276 – um salto ladeira abaixo
de quase 50%. No geral, foram 3.422 conquistadas pelos maiores partidos da base
de Dilma (PMDB, PT, PSB, PP, PDT, PTB e PR) contra apenas 968 do consórcio
PSDB/DEM, fora as 495 do PSD, que anda lá e cá.
Restam
ainda algumas capitais, dentre elas a joia da coroa tucana: São Paulo, a maior
e mais rica cidade do país. Lá, se enfrentarão no 2º turno José Serra, o
cacique-mor da tribo peessedebista, e Fernando Haddad, ex-ministro da educação,
o mais novo “poste” inventado por Lula, utilizando o vocabulário chulo da
militância serrista. Enquanto Serra traz para a campanha aquele velho e surrado
debate xiita (como em 2010, quando acusou Dilma de ser contra o aborto)
escalando o cão de guarda homofóbico Silas Malafaia, Haddad surpreende até
alguns eminentes nomes da esquerda, fazendo uma campanha limpa, propositiva e
impessoal. Noves fora, vitorioso nas urnas ou não, Haddad hoje se configura na
grande revelação da esquerda brasileira. Um nome para não ser esquecido nos
próximos desafios eleitorais do PT.
Esse novo
Brasil, descortinado após o resultado das urnas no último sete de outubro,
mostra que cada vez mais o eleitor pensa com sua própria cabeça, rejeitando os
rótulos impostos pelos grandes veículos de comunicação. Eles, na sua
imparcialidade de botequim, chamam Serra de “melhor ministro da saúde da
história”, ao mesmo tempo em que atestam ao PT a pecha de “partido do
mensalão”. – tudo isso em plena eleição. O eleitor, soberano, diferencia os
escândalos políticos nacionais das administrações de suas cidades – porém,
desconfia cada vez mais de tucanos e demos, os campeões nacionais da ficha
suja, como mostram os números.
Base do
governo e oposição ainda se enfrentam em doze das dezessete capitais onde
haverá segundo turno. Ou seja, o mapa do Brasil para a oposição pode ser desalentador
em 2014. Ainda mais com a derrota iminente nas duas cerejas do bolo: São Paulo,
com Serra já há 11 pontos percentuais de Haddad, e Salvador, onde ACM Neto
deverá tomar a virada de Nelson Pelegrino.
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