Cícero Almeida em 2004, após sua primeira vitória à prefeitura, e em 2012: alguns cabelos brancos, rugas e milhões de reais a mais |
Em 31 de dezembro próximo, Maceió se despede de um
dos mais populares e conturbados prefeitos que já passaram pela administração
municipal. José Cícero Soares de Almeida, maribondense às portas de seus 55
anos, radialista, cantor de botequins, repórter policial e compositor de forrós
populares, deixa a cadeira que esquentou durante oito anos para voltar a ser o
mesmo cidadão comum de antes da meteórica carreira política, que o levou de
vereador da capital a prefeito em intervalo de uma eleição.
Ciço, alcunha que lhe é dada tanto por críticos
quanto por admiradores, passou seguramente por sua mais intensa e
transformadora experiência. De um simples repórter policial da hora do almoço,
especialista em extrair pequenas confissões de ladrões de galinha, converteu-se
em prefeito de uma grande capital, desbancando figurões da política local –
venceu em suas duas eleições, nada menos que candidatos apoiados por Ronaldo
Lessa e Teotônio Vilela, então governadores do estado, e suas pesadas máquinas
públicas.
Oito anos depois, a Maceió que Almeida deixa para
seu sucessor, o tucano Rui Palmeira, é uma cidade atolada em problemas, alguns
deles estampados com a triste conclusão de insolúveis. Ciço, o mais popular
prefeito dos últimos tempos, não soube utilizar do forte apoio do maceioense
para implementar as soluções que a cidade precisava. Aliás, Ciço não soube, em
nenhuma área, utilizar-se do seu grande apelo popular. Confundiu por todo o
mandato, popularidade com arrogância e autossuficiência.
Há um resultado pragmático e perverso dessa
mistura. De sujeito quase simples, de classe média, fala-se que Ciço tem hoje
uma das maiores fortunas de Alagoas, advinda logicamente de origens
desconhecidas, e incompatíveis com um funcionário público de primeiro escalão,
que ganha em torno de R$ 15 mil mensais. Especula-se que o prefeito seja dono
de vários imóveis na orla marítima de Maceió, além de fazendas no interior de
AL e em outros estados. Tudo, claro, em nome de terceiros, aula de malandragem
que um gestor, ao tomar conta de uma caneta municipal, tem que aprender muito
bem.
Despido do paletó de prefeito, caberá agora a
Almeida defender-se dos processos criminais a ele imputados, que já se acumulam
na justiça. O último lhe rendeu recentemente um natal, digamos, mais magro:
seus bens foram bloqueados pela justiça federal, por conta de desvio de recursos
públicos para compra de ambulâncias. É mais um imbróglio jurídico na sua conta,
além do indiciamento na operação taturana, na qual é acusado de pertencer a
ORCRIM do ex-deputado Celso Luís, e também com a chamada “máfia do lixo”,
desvios de mais de R$ 300 milhões em contratos com empresas de coleta, da qual
é considerado o chefe. Problemas que a partir de agora, como cidadão comum e
desarmado de sua autossuficiência, terá que ter habilidade para se safar.
Na esfera administrativa, para além de seus apertos
com a justiça, Almeida também não deixa para seu sucessor algum saldo positivo.
Foram inúmeras trocas de secretariado e de perfis administrativos – algumas por
pura birra do prefeito. Na saúde, Maceió tem a pior cobertura de PSF (Programa
de Saúde da Família) entre todas as capitais brasileiras; os postos de saúde
funcionam precariamente. Na educação, talvez o maior mérito da gestão Ciço
tenha sido manter as escolas funcionando, diante do caos instalado na educação
estadual. Na infra-estrutura, não teve competência suficiente para bancar
soluções criativas para o trânsito caótico da cidade.
Enfim, não mudou a cara de Maceió. Não deixará
nenhum legado de seus oito anos, nada acrescentou que o imortalizasse como
grande gestor. Resta para Almeida, para que o julgamento da história o absolva,
que consiga se defender do impossível e explique como era pobre e tornou-se
rico.
Do contrário, os microfones das barracas da orla,
onde cantarolava seus forrós de gosto duvidoso, serão o triste destino do
prefeito eleito por mais de 319 mil maceioenses em 2008.
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