Saíamos de uma das
mais longas ditaduras da América Latina – nosso governo militar e autoritário
tinha tomado o poder à força em 1964, e já eram 25 anos sem que o povo pudesse
escolher seu presidente. De concessão em concessão, os milicos entregaram-nos
de volta o direito de escolher prefeitos, governadores, mas presidente... no
máximo, um colégio eleitoral e uma eleição indireta, em 1985.
E então chegou 1989.
Com 22 candidatos, alguns identificados com o socialismo da cortina de ferro,
outros com o liberalismo americano... na nova democracia brasileira, cada um
defendia suas ideias, mesmo que algumas soassem até hoje esdrúxulas – como o
sujeito com barba enorme defendendo um programa nuclear brasileiro para fins
bélicos, e por aí vai. Era o aguardado retorno da liberdade política
tupininquim.
No entanto, coube aos
grandes conglomerados da comunicação brasileira, os mesmos que ajudaram a
instalar e sustentar aquela longa ditadura militar, a escolha estratégica de um
novo nome. Vindo das Alagoas, estado mais miserável do Brasil até então –
governado por ele, jovem, bem aparentado e herdeiro de um grupo de comunicação,
estava ali o indivíduo que simbolizava tudo o que a mídia queria como a “nova
cara do Brasil”. Era Fernando Collor de Melo.
Para não passar pelos
debates de TV fraudulentos e demais pequenos golpes brancos usados naquela
eleição, em resumo Collor enfim elegeu-se, com um discurso moldado
principalmente para a modernização do Estado brasileiro, o mais jovem
presidente da república da história.
E assim se fez a
história. Collor, de um primeiro presidente eleito diretamente em 25 anos,
esperança para 120 milhões de brasileiros, mostra que a imagem de jovem
estadista com futuro brilhante era tudo o que ele tinha a oferecer ao país.
Faltava-lhe conteúdo. Apenas três anos depois, acuado e sozinho depois de um
barulhento processo de impeachment, Collor desce a rampa do planalto, sem
mandato, sem aliados, sem o sorriso característico, sem a mídia que lhe
ajudara, sem o caráter que lhe tinha sido estampado. Restava ao seu lado
somente a ex primeira-dama, Rosane, e seus enormes olhos azuis.
Ao registrar os 20
anos da queda de Collor, que juízo fará a história desse personagem? O que
significou na época, e significa hoje para o Brasil, o período de Collor na
presidência da república?
A ascensão e queda
collorida dá a noção, cada vez mais comprovada nos dias de hoje, de que existe
um 4º poder, não eleito e de caráter privado, com força suficiente para formar
boa parte do pensamento nacional. E que esse poder é oligárquico, pois se
concentra nas mãos de quatro ou cinco famílias, que há tempos redigem o
noticiário político brasileiro conforme os interesses de suas corporações.
Collor não era mais
do que um dos 22 que estavam naquele páreo em 1989. Tinha nada mais do que 4%
das intenções de voto – eleitorado que cabia ao tamanho de Alagoas, seu estado
de origem, onde era adorado principalmente pelos seus feitos populistas. Seu
discurso não teria alcançado tantos brasileiros naquela eleição se não fosse a
força do apoio midiático daquelas quatro ou cinco famílias.
Fernando Collor era
há 23 anos quando assumiu a presidência, e há 20 anos, quando foi apeado dela,
exatamente o que é hoje: Um “líder” regional, populista, midiático, sem aliados
e raivoso.
A diferença, hoje, é
o 4º poder invisível, que esteve com ele durante seu governo, e foi
gradativamente deixando-o, na medida em que viu que faltava-lhe conteúdo para
representar seus interesses.
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