Usina Coruripe, uma das quatro dos tabuleiros do agreste, em imagem dos anos 40. |
O poder político e
territorial em Alagoas é contado com decisiva ajuda do clima. Os engenhos de
açúcar, origem da nossa sociedade predominantemente centrada no cultivo da cana,
desenvolveram-se bastante na zona da mata alagoana, baseados na força da terra
fértil, de um clima ameno e de chuvas constantes.
Junto com os engenhos,
veio o domínio das famílias canavieiras. Os Palmeira, do hoje deputado federal
Rui Palmeira, dominavam uma região que compreendia parte do litoral sul onde
hoje se situa Jequiá da Praia, penetrando mata adentro até a área onde fazia
divisa com o engenho dos Cansanção, atualmente Usina Sinimbu. Uma estrada
dividia as duas gigantescas propriedades, mais tarde asfaltada e transformada
na BR 101. A casa-grande dos Palmeira, com seus alpendres e estilo clássico,
ainda está lá, conservada.
Na região compreendida
entre Murici, União dos Palmares e Joaquim Gomes, ficava a Usina Santa Amália,
de propriedade dos Gomes de Barros. Uma extensa propriedade que incluía
fazendas de gado e extensões de terra para plantio da cana. Ali próximo, em
Viçosa, situava-se o engenho Boa Sorte, de propriedade dos Brandão Vilela,
parentes ancestrais do hoje governador do estado.
O que a zona da mata deu
aos Gomes de Barros e aos Vilela de presente – a terra fértil e um baixo
investimento na produção – tirou-lhes em contrapartida com um custo altíssimo
na colheita e beneficiamento, resultado de um terreno acidentado, com colinas,
montes e serras muito íngremes, onde os arados e demais máquinas agrícolas não
entravam – ou se entrassem, não saíam.
Daí surgiu uma das mais
antigas e sólidas sociedades da história do açúcar em Alagoas. Fugindo do alto
custo e prejuízos acumulados na zona da mata, Osvaldo Gomes de Barros, seu
irmão Geraldo e o velho Teotônio Brandão Vilela, pai do atual governador Vilela
Filho, migraram suas máquinas agrícolas e influência política para uma região
com poucas propriedades e potencial econômico latente: os tabuleiros pouco
acidentados do agreste alagoano, bem próximo de onde já estavam os Cansanção,
com sua Usina Sinimbu e o já estabilizado Tércio Wanderley, com sua sólida
Usina Coruripe. Encravados um pouco mais a oeste, quase formando um triângulo
canavieiro, Osvaldo, Geraldo e Teotônio (o pai) fundaram no município de
Junqueiro as Usinas Reunidas Seresta, resultado da fusão da Santa Amália dos
Gomes de Barros com a Boa Sorte dos Vilela.
Restava um considerável
problema a ser equacionado; agregar à faixa de domínio da Seresta uma boa
quantidade de terras, que rentabilizasse ao máximo o novo empreendimento. Desse
modo, entra na história Nelson Costa, ex-deputado estadual, químico de
formação, com larga experiência em mecânica e hidráulica de usinas, e um dos
maiores fornecedores de cana do Brasil. Dono de toda uma próspera extensão de
terras nos tabuleiros junqueirenses, pretendidos pelo consórcio Gomes de
Barros/Vilela.
Na mesa de negociações, a
convite do velho Vilela e Geraldo Gomes de Barros, Nelson se viu entre o
trabalhoso e pouco atrativo projeto apresentado pelos sócios da Seresta, ou o
embarque, junto com outro velho amigo e empresário ascendente, o hoje deputado
federal João Lyra, numa nova e improvável tarefa: estruturar na mesma área,
além do triângulo usineiro já existente, um novo empreendimento: a Usina
Guaxuma.
Dono de um notório estilo
agressivo, Lyra empenhou junto com Nelson Costa uma operação especial para a
compra de toda a extensão de terras à margem das usinas, com direito a viagens
pela madrugada e negócios fechados poucas horas antes dos concorrentes. Batalha
vencida por Lyra, que adquiriu as terras, ampliou sua influência política e
patriarcal na região e ganhou rios de dinheiro durante mais de 30 anos.
O final dessa história é
um pouco mais conhecido do que seu início: Nelson Costa, lúcido e consciente,
porém acometido por uma dengue, morreu há alguns meses em São Paulo. Teotônio
Vilela, o filho, e João Lyra travaram em 2006 uma nova batalha, dessa vez pelo
governo de Alagoas – vencida de virada por Vilela. E João Lyra, o ex-midas do
açúcar, viu seus empreendimentos entrarem em crise e quase fecharem as portas,
atrasando pagamento de seus funcionários e tendo que recorrer a bancos para
salvá-lo. Ainda assim, atualmente, é um dos usineiros mais poderosos do estado,
deputado federal e dono de uma fortuna de mais de 600 milhões de reais.
A história é traiçoeira,
e muitas vezes prega peças. Lyra saiu na frente, mas o placar agora está
empatado.
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