terça-feira, 28 de agosto de 2012

Uma breve história do açúcar nos tabuleiros do agreste alagoano


Usina Coruripe, uma das quatro dos tabuleiros do agreste, em imagem dos anos 40.

O poder político e territorial em Alagoas é contado com decisiva ajuda do clima. Os engenhos de açúcar, origem da nossa sociedade predominantemente centrada no cultivo da cana, desenvolveram-se bastante na zona da mata alagoana, baseados na força da terra fértil, de um clima ameno e de chuvas constantes. 

Junto com os engenhos, veio o domínio das famílias canavieiras. Os Palmeira, do hoje deputado federal Rui Palmeira, dominavam uma região que compreendia parte do litoral sul onde hoje se situa Jequiá da Praia, penetrando mata adentro até a área onde fazia divisa com o engenho dos Cansanção, atualmente Usina Sinimbu. Uma estrada dividia as duas gigantescas propriedades, mais tarde asfaltada e transformada na BR 101. A casa-grande dos Palmeira, com seus alpendres e estilo clássico, ainda está lá, conservada.

Na região compreendida entre Murici, União dos Palmares e Joaquim Gomes, ficava a Usina Santa Amália, de propriedade dos Gomes de Barros. Uma extensa propriedade que incluía fazendas de gado e extensões de terra para plantio da cana. Ali próximo, em Viçosa, situava-se o engenho Boa Sorte, de propriedade dos Brandão Vilela, parentes ancestrais do hoje governador do estado.

O que a zona da mata deu aos Gomes de Barros e aos Vilela de presente – a terra fértil e um baixo investimento na produção – tirou-lhes em contrapartida com um custo altíssimo na colheita e beneficiamento, resultado de um terreno acidentado, com colinas, montes e serras muito íngremes, onde os arados e demais máquinas agrícolas não entravam – ou se entrassem, não saíam. 

Daí surgiu uma das mais antigas e sólidas sociedades da história do açúcar em Alagoas. Fugindo do alto custo e prejuízos acumulados na zona da mata, Osvaldo Gomes de Barros, seu irmão Geraldo e o velho Teotônio Brandão Vilela, pai do atual governador Vilela Filho, migraram suas máquinas agrícolas e influência política para uma região com poucas propriedades e potencial econômico latente: os tabuleiros pouco acidentados do agreste alagoano, bem próximo de onde já estavam os Cansanção, com sua Usina Sinimbu e o já estabilizado Tércio Wanderley, com sua sólida Usina Coruripe. Encravados um pouco mais a oeste, quase formando um triângulo canavieiro, Osvaldo, Geraldo e Teotônio (o pai) fundaram no município de Junqueiro as Usinas Reunidas Seresta, resultado da fusão da Santa Amália dos Gomes de Barros com a Boa Sorte dos Vilela.

Restava um considerável problema a ser equacionado; agregar à faixa de domínio da Seresta uma boa quantidade de terras, que rentabilizasse ao máximo o novo empreendimento. Desse modo, entra na história Nelson Costa, ex-deputado estadual, químico de formação, com larga experiência em mecânica e hidráulica de usinas, e um dos maiores fornecedores de cana do Brasil. Dono de toda uma próspera extensão de terras nos tabuleiros junqueirenses, pretendidos pelo consórcio Gomes de Barros/Vilela.

Na mesa de negociações, a convite do velho Vilela e Geraldo Gomes de Barros, Nelson se viu entre o trabalhoso e pouco atrativo projeto apresentado pelos sócios da Seresta, ou o embarque, junto com outro velho amigo e empresário ascendente, o hoje deputado federal João Lyra, numa nova e improvável tarefa: estruturar na mesma área, além do triângulo usineiro já existente, um novo empreendimento: a Usina Guaxuma.

Dono de um notório estilo agressivo, Lyra empenhou junto com Nelson Costa uma operação especial para a compra de toda a extensão de terras à margem das usinas, com direito a viagens pela madrugada e negócios fechados poucas horas antes dos concorrentes. Batalha vencida por Lyra, que adquiriu as terras, ampliou sua influência política e patriarcal na região e ganhou rios de dinheiro durante mais de 30 anos.

O final dessa história é um pouco mais conhecido do que seu início: Nelson Costa, lúcido e consciente, porém acometido por uma dengue, morreu há alguns meses em São Paulo. Teotônio Vilela, o filho, e João Lyra travaram em 2006 uma nova batalha, dessa vez pelo governo de Alagoas – vencida de virada por Vilela. E João Lyra, o ex-midas do açúcar, viu seus empreendimentos entrarem em crise e quase fecharem as portas, atrasando pagamento de seus funcionários e tendo que recorrer a bancos para salvá-lo. Ainda assim, atualmente, é um dos usineiros mais poderosos do estado, deputado federal e dono de uma fortuna de mais de 600 milhões de reais.

A história é traiçoeira, e muitas vezes prega peças. Lyra saiu na frente, mas o placar agora está empatado.


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