domingo, 19 de agosto de 2012

Dilma, paus, pedras e incoerência


Desembargador Sebastião Costa Filho, presidente do TJ/AL, com pedaço de pau tomado de manifestante - Crédito: Marcelo Albuquerque - GazetaWeb

Dilma Rousseff, a presidenta da república, eleita por mais de 60 milhões de brasileiros contentes com os oito anos de governo do PT e do presidente Lula, esteve em Alagoas na última sexta-feira (17), e apareceu na foto do governador tucano Teotônio Vilela, inaugurando uma nova fábrica de PVC no estado, o que transformará Alagoas, segundo a propaganda institucional do governo, num dos maiores polos produtores de PVC do mundo.

Ao chegar de helicóptero, a presidenta não se deparou, em terra firme, com uma grande manifestação. Apesar da pouca acessibilidade, centenas de manifestantes de todas as cores partidárias se aglomeraram nas margens da BR 316, próximo a Satuba, cada um com sua peleja: MST, MLST e Pastoral da Terra reclamavam da reforma agrária; professores universitários pedem aumento salarial; outras categorias de servidores públicos federais, todos devidamente representados por seus sindicatos, também estavam por lá.

Ao saber que não teriam acesso ao local da cerimônia, movimentos sociais e polícia militar – através do seu braço forte, o BOPE – começaram uma verdadeira guerra campal. De um radicalismo e beligerância dos dois lados. Um espetáculo deprimente, que em determinado momento fez esquecer que ali estavam qualificados profissionais que servem ao povo brasileiro, e não guerreiros prontos para uma batalha. Infelizmente, no Brasil, está se tornando obsoleto o diálogo e o consenso, e cada vez mais eficaz, como estratégia de ação de ambos os lados, o uso da força e da repressão.

Vale analisar nesse caso, a indignação dos movimentos sociais, e a forma seletiva como ela se dá. Alagoas vive, há seis anos, a ditadura da cooperativa dos usineiros, que após alguns anos apeada do poder pela eleição de uma frente popular, voltou com força nas últimas eleições. O estado recebeu recentemente, já sob o carimbo tucano de Teotônio Vilela, dois títulos nacionais que nada honram os alagoanos: o de campeão brasileiro de assassinatos, e mais recentemente, o de pior educação básica do país.

Entretanto, os mesmos movimentos sociais que fecharam a BR e por pouco não produziram uma batalha entre civis e militares, cala-se inexplicavelmente para cobrar respostas do governo estadual quanto aos dois problemas citados acima. Nos seis anos de tucanato em Alagoas, não houve sequer uma bolinha de papel jogada no suntuoso palácio de vidro no centro de Maceió. Vilela exerce seu segundo mandato sem ser incomodado pelos movimentos sociais, enquanto Dilma, não fosse o rebuliço criado no acesso ao seu cerimonial, em sua única visita a AL em 2012, teria que ouvir o ruído raivoso da esquerda radical e incoerente.

Não foram poucas as chances em que esses mesmos movimentos foram chamados pela sociedade para o embate. No mais simbólico deles, o assassinato do médico José Vasco no corredor Vera Arruda, em que pese a participação ativa de alguns membros isolados, todos estiveram ausentes. Nas enchentes de 2010, cujas vítimas permanecem até hoje morando nas lonas enviadas por Vilela, há um silêncio sepulcral. Na indicação de Alan Balbino (aquele que, quando vereador, pagou com dinheiro público um curso de “design de sobrancelhas” para ele mesmo) para a presidência do Iteral, o instituto que gerencia a questão da reforma agrária no estado, nenhum grito de revolta.

Dilma erra ao minimizar o pleito dos servidores públicos federais. Erra também em não priorizar a reforma agrária, fixando o homem no campo, dando ainda mais condição ao Brasil de superar o problema histórico da miséria. A presidente deve encontrar de forma urgente uma saída para a crescente insatisfação de toda uma legião de servidores em quase todos os órgãos públicos federais.

No entanto, além de fechar a BR e cobrar soluções do governo federal, os movimentos sociais e a esquerda radical em Alagoas sabem que têm mais uma tarefa a cumprir. Para essa, não vale o silêncio. Direitos iguais.

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