domingo, 12 de agosto de 2012

Rumo aos 90 dias de greve nas IFES


Próxima quarta-feira, 15 de agosto do ano da graça de 2012. Nessa data, as universidades públicas federais comemoram o nada honroso aniversário de 90 dias de greve geral. Os docentes e técnicos administrativos das mais de 60 universidades em todo o país passarão, na quarta, pelo cabalístico número de dias parados sem nenhum avanço na mesa de negociação com o governo federal. Blefes dos dois lados, chegamos a três meses de produção de conhecimento congelado.

Uma comunidade universitária, para se começar pelo sentido pedagógico do tema, é formada de alguns segmentos, além dos docentes - também conhecidos como professores: os técnicos, responsáveis pelo funcionamento administrativo da instituição, são aqueles a quem são delegadas as funções burocráticas - os populares "carimbaços". Estão em todos os departamentos, dando a condição técnica para que os docentes possam exercer sua atividade sem maiores percalços.

Na outra extremidade, se tratando especificamente da nossa universidade, a UFAL, estão os mais de 30 mil estudantes, os chamados discentes, espalhados pelos 3 campi univesitários de Alagoas. Vale lembrar que esse é um número que quase triplicou em relação a 2002, quando tínhamos em torno de 11 mil alunos matriculados. 

Esta pequena introdução é necessária, pois é essencial que a sociedade saiba que além de professores, parte mais celebrada como autora do atual movimento grevista, há também outros atores envolvidos na paralisação; um deles, os técnicos administrativos, igualmente buscando melhoria salarial e do modelo de educação superior como um todo; outro, os estudantes, sem alternativa, se vê impelido a esperar e ter fé de que a greve não prejudique a já capenga formação profissional adquirida naquelas salas de aula.

A greve, antes de mais nada, é justa e necessária. Serviu, num primeiro momento, para chamar a atenção da população para a falta de foco na educação básica, que acaba levando aos corredores universitários jovens pouco preparados para uma vida acadêmica cheia de desafios. Serviu também de alerta para a condição precária em que trabalham alguns docentes e técnicos, como por exemplo os do campus Arapiraca, ameaçados pelas constantes trocas de tiro entre agentes penitenciários e presos, fugitivos das celas localizadas ali mesmo, na vizinhança.

Porém, diante do aniversário de 90 dias do movimento grevista, da falta de perspectiva em relação ao retorno e do inevitável prejuízo à comunidade acadêmica como um todo, a greve nesse momento, não serve mais. Por mais que não seja necessário nem justo citar os demais motivos, o tempo decorrido da paralisação e a firmeza do governo federal na adoção de uma política salarial que contemple em níveis mínimos os anseios dos professores tornou a manutenção do movimento uma prática condenável.

A greve, que era um movimento unificado dos três setores, que tinha como objetivo alertar e buscar junto ao governo a necessidade de reestruturação do modelo de educação superior como um todo, se degenerou, transformando-se ao longo do tempo numa luta unilateral dos professores por melhores salários. As outras propostas de melhoria acadêmica, bem como o pleito dos companheiros técnicos ficaram em segundo plano.

Falta muito empenho de um decepcionante ministro da educação Aloízio Mercadante, reconhecidamente um dos mais bem preparados quadros da esquerda brasileira - mas maldosamente amador tratando da negociação junto ao comando nacional de greve. Mas falta, por parte dos docentes, a visão coletiva de negociar e um conjunto de propostas que não seja reduzida somente ao incremento de mais alguns reais ao contracheque no final do mês, além da consciência de que, se a greve é um jogo de xadrez entre governo e professores, Mercadante está próximo do cheque-mate, o que força os docentes a mudar a estratégia, e recuar imediatamente.

Estudantes são quase unânimes em pedir o retorno das atividades. No aniversário de 90 dias, grevistas precisam responder a esse apelo.

Um comentário:

  1. Fico em dúvida se recuar é o melhor, seria como nadar nadar e morrer na praia... Certo que para uma greve temos poucas mobilizações, nunca vi na história do Brasil e por que não dizer no mundo, reivindicações serem atendidas sem protestos e manifestações mais ativa nas ruas... Enfim, o mais prejudicado somos nós estudantes, que nos vemos (eu particularmente)sensibilizados com a luta dos professores por melhores condições de trabalho, consequentemente por melhoria na educação... mas, por outro lado, nos vemos estagnados na vida acadêmica, sem perspectiva de retorno muito menos melhorias no âmbito educacional... vendo projetos que outrora eram possíveis esvair-se por não ter meios para o concretizar!
    A luta é justa, porém falta mais garra!

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