A complexa lógica de pedir uma ditadura em plena democracia (foto: Estadão) |
Há no Brasil uma parcela de
pessoas que parecem desconhecer os preceitos básicos de uma democracia, dentre
eles o princípio basilar: o respeito, pela minoria, à vontade da maioria –
mesmo que ela tenha sido conquistada por uma diferença de aproximadamente 3,4
milhões de votos.
Poderíamos discutir aqui
que esta nem foi uma diferença tão apertada assim. Nos Estados Unidos, o
“modelo perfeito de democracia” dessa parcela deseducada que por aqui habita,
as últimas eleições, em 2012, foram decididas por uma diferença de pouco menos
de 5 milhões de votos em favor do democrata Barack Obama. Por lá, ninguém falou
em “EUA dividido”, ou em “sul burro” (o sul dos EUA é o equivalente ao nosso
nordeste).
O que se viu no último
sábado, na avenida paulista, foi o mais decadente espetáculo que esta minoria
desprovida de preceitos democráticos foi capaz de produzir. Por lá,
aglomeraram-se tipos de toda sorte: militares saudosos, reacionários
separatistas, gente da classe média, parte da elite branca paulistana. Pediam
aos gritos uma assustadora “intervenção militar” no Brasil – embora alguns
fizessem questão de diferenciar “intervenção” de “golpe”, para dar um colorido
todo democrático ao ambiente.
Do alto de um trio
elétrico, dois personagens coroavam a decadência dos princípios nada
republicanos que movia o ato: Eduardo Bolsonaro, recém eleito deputado federal
por São Paulo (embora more no Rio de Janeiro), falava em “paz” e “ordem”,
ostentando uma pistola semi automática .40 escondida sob sua camisa; e Lobão,
músico quase aposentado, agora ativista político, repetia no microfone o que
uma liderança tucana, parafraseando Carlos Lacerda, dizia nas redes dias antes:
“Ganhou, mas não pode governar. Será assim daqui pra frente. Cada dia seremos
maiores”.
Embora não tenha sido
disparado pela pistola .40 de Eduardo Bolsonaro, o que se viu no sábado na
paulista foi um duro tiro na nossa ainda jovem democracia. Não importa qual
eufemismo seja dado ao que essa gente não quer qualificar como golpe, mas
qualquer ação que não seja derivada da maioria, que elegeu legitimamente a
candidata do PT, é o retorno do velho golpismo, tanto faz se na versão milico
ou civil. É a minoria sobrepujando uma maioria que, embora silenciosa, deu seu
recado nas urnas quando convocada.
Mais respeito com a
democracia, turma. Que nunca mais se repita um sábado como o último, que mais
pareceu uma triste e nublada quarta-feira de cinzas.